Uma amiga disse uma vez que poderia escrever um livro sobre todas as desgraças que nunca lhe assolaram. Rimos disso enquanto conversávamos sobre os medos que, graças a Deus, nunca de fato se concretizam.

Na época estávamos conversando sobre ter filhos e todos os avisos de cautela que vêm depois que a vontade é verbalizada. “Aproveita pra dormir agora!” e outras premonições apocalípticas seguem falando sobre as preocupações, doenças, crises de choro e tudo mais que vem com o pacote maternidade / paternidade (tudo verdade! Hahaha).

O fato é que, com a melhor das intenções, tentamos empurrar para os outros nossas próprias experiências e as lentes com que enxergamos o mundo, reforçando na narrativa nossos medos e especialmente aquilo que deu errado.

É como quando visitamos uma cidade com um amigo, e um ama e o outro odeia. A cidade era exatamente a mesma, mas o olhar era diferente. Com ele estavam as referências, experiências e especialmente, expectativas. Este blog não deixa de ser um pouco disso, contando nossos perrengues e descobertas na forma de um “eu te avisei”.

Quando chegamos aqui todos falavam sem parar sobre o inverno. Avisos de depressão chegavam de todos os lados vindo de quem já tinha atravessado alguns janeiros. Falavam sobre a escuridão, o frio, o sentimento de fim do mundo que dava entre Dezembro e Março, mas a chuva e a falta do sol sempre foram os campeões. O negócio, minha gente, é que eu vim de Joinville, onde chove precisamente 249 dias por ano! Joinville é literalmente a cidade com menos dias de sol do Brasil! Então tudo na realidade é uma questão de referência.

Posso estar falando a maior besteira, porque estou no meio do meu quase segundo inverno, mas por enquanto, nada novo. Ainda estou aqui, navegando entre dias de sol e chuva, assim como fiz a vida toda na minha cidade natal.

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Não sei ainda o limite entre tentar ajudar um amigo compartilhando algumas coisas que já vivi e deixá-lo descobrir por conta própria onde o calo dói, se dói.

No fundo somos todos parecidos e dá um alívio danado quando percebemos que não somos os únicos a soar frio no primeiro dia de trabalho, que nos sentimos deslocados numa festa ou morrendo de vergonha quando vamos cumprimentar alguém e ficamos com a mão balançando no ar. Estes sentimentos talvez sejam comuns a todos os mortais, mas o que vem depois deles é que muda tudo.

As circunstâncias podem ser iguais, mas como vamos "tomar cabo” da situação é bastante particular. Se a reação primitiva será fugir ou lutar dependerá de um montão de coisas, especialmente das lições que aprendemos com nossas experiências passadas.

Um estudo da Yeshiva University descobriu que as pessoas que vivem mais têm duas coisas em comum: atitude positiva e um alto grau de inteligência emocional. Isso significa dizer que elas encaram os desafios de um jeito mais otimista e conseguem controlar as emoções, navegando melhor independe do clima.

E por falar nele, como diz a música “Haverá um dia em que você não haverá de ser feliz”, e tudo bem, também estamos aí pra dançar na chuva quando ela vem.  Ainda assim, acredito que ouvir as experiências dos outros é o melhor jeito de encurtar caminhos e saber quando precisamos levar um guarda-chuva. A diferença é que hoje escolho melhor a fonte. Semanas atrás saí de um grupo de WhatsApp que considerava super útil para me passar informações, até que percebi que não poderia fazer nada com aquilo que recebia além de me preocupar, como saber por exemplo de um surto de alguma doença que eu não poderia evitar.

Hoje valorizo ainda mais o ouvir das experiências dos amigos, porque já conheço as suas lentes e sei o tamanho do filtro que irei precisar colocar em cada fala. Suas palavras são ouro pra mim, e que bom que consigo evitar algumas pequenas desventuras ouvindo as suas histórias.

Ainda hoje me lembro do dia, lá por abril, em que coloquei sapatilhas aqui. Lembro nitidamente porque achei que isso nunca mais iria acontecer. Enquanto está chovendo nos esquecemos que tudo vem e vai em ciclos de generosa ironia. E que bom que o sol sempre volta outra vez!

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