No nosso passeio de hoje, sentada no tran como alguém que se parece bem mais velha do que a minha filha, você me disse: "Mãe, tô com muita saudade do nosso carro".

Eu disse que eu também, sem conseguir explicar que a saudade era também de saber pra onde ir, do nome das ruas, da tranquilidade de dirigir quase no piloto automático e sem carregar nossa vida, literalmente, nas costas.

Descemos e fomos caminhando por uma estrada linda. Na rua sinuosa vimos flores, pontes, árvores sem fim. Com brisa suave no rosto nossa conversa foi ganhando corpo, comigo te contando como tudo é um empréstimo do céu. Falamos das suas roupas, das minhas, do carrinho que um dia te levou por aí, hoje leva o Théo e amanhã alguém mais.

Você me contou que pensava que traríamos o carro pra cá e que se sentia triste em saber que outra pessoa andava por aí nele agora. Isso foi só até virmos um smurf tentando escalar uma sacada para darmos risada e você se lembrar de uma história super engraçada que nos tomou uns 15 minutos de descritivas e sobressaltos da sua tagarelice, alegrando o dia de qualquer um que passasse por nós na rua.

E como você mesma diz - "sabe de uma coisa?" - se é pra sentir saudade tudo bem.

Hoje foi você quem me ensinou que podemos sentir falta de tudo que de alguma forma acalentava o coração - gente, coisa, lugar, cheiro, sentimento. Desde que de um jeito bom. Pra cada saudade vamos mandar agora o mesmo tanto de alegria. Para cada falta um saudoso abraço apertado de boas energias. Assim amamos o que foi, abrindo espaço para o que é agora, como esse nosso caminhar que nunca teria acontecido antes.

Quando chegamos ao final do destino e da conversa, segurando a sua mãozinha gostosa ouvi simplesmente um "te amo mamãe". Nos entendemos assim. "Também de amo filha. Quantos anos você tem mesmo?".
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Créditos da foto (da nossa antiga casa, que sinto falta na mesma proporção em que amo a nova) para o querido Daniel Machado, projeto Habitudes.

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