Estamos tendo dias de muito choro, birras e protestos por aqui. O Théo está aprendendo a espernear e você tem percebido que atenção negativa é melhor do que atenção nenhuma. O conjunto de tudo isso? Caos.

Enquanto eu colocava sua roupa depois do banho você me disse: "Não era esse o irmão que eu queria. Eu queria um irmão que brincasse. Ele incomoda muito e a gente nunca mais conseguiu ficar de boas".

Demorei uns segundos para parar de me assustar com o seu jeito tão adulto de colocar as coisas. Sabia que isso passava pela sua cabeça, mas jamais pensei que já o tivesse elaborado de um jeito tão lúcido.

É verdade que quando vocês nascem nós temos uma baita expectativa sobre como serão. Ficamos buscando em cada um de vocês traços que lembrem os nossos (eu perdi aqui, claro). Mas é na semelhança do comportamento que ficamos mais extasiados, para o bem e para o mal.

A verdade nua e crua é que vocês não são uma receita feita dos nossos ingredientes. Vocês vêm um prato totalmente novo, com sabores que ninguém nunca vai saber de onde saíram (ainda que de vez em quando role um julgamento por aqui "isso aí só pode ser do teu lado da família!").

Vocês não são definitivamente o que encomendamos. Você mesmo, minha filha, nem se fala! Jamais imaginei que Deus me daria você.

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Essa expectativa em relação aos outros vai te acompanhar por toda a vida. Você vai esperar amigos, namorados, pais diferentes. E ao final vai sacar que não há nada que possa fazer para que eles sejam o que você espera deles.

O que você pode sim é ajustar o que é pra eles e como os vê. Você vai ter amigos totalmente desajustados para você. Vai se flagrar um dia rindo das imperfeições deles e dos desapontamentos frente às coisas que fazem. Nessa hora você vai achar consolo num humor sarcástico que te diz: "Isso é a cara dele".

Existem relações para as quais impomos expectativas tão altas que talvez nunca seremos capazes alcançar. A relação entre pais e filhos talvez seja uma delas. Nunca terei a mãe que idealizei ter, porque também nunca serei a filha que deveria. Mas essa nossa imperfeição nos sacia completamente.

Minha tentativa de ser a melhor mãe do mundo para você se esborracha no chão várias vezes por dia. E cada comportamento ruim seu me lembra de que estamos, as duas, fazendo nosso melhor. Nos encontramos assim.

Voltando ao seu irmão, você riu quando te contei como você era chatinha igual, e o quanto incomodava seu priminho. Você mesma lembrou que o seu pai estragava as bonecas da irmã (da qual inclusive suspeito que você herdou algo), e que hoje são mais que amigos.

Terminando de te vestir coloquei uma peça do avesso. Rimos e brinquei que essa sua mãe estava maluca, e que seria melhor procurar outra por aí. Você respondeu: "Não mãe, você é perfeita, eu te amo a bola (🌎) toda".

Sei que sua percepção inocente logo vai mudar. E que a cada fase esperaremos coisas diferentes uma da outra. Mas  por hoje me basta a paz de saber que não precisamos esperar por nada mais. Somos perfeitamente imperfeitos um para o outro por aqui. Com birras e tudo. E isso é bem mais do que o suficiente.

Também te amo a bola toda.

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