Existem diversos artigos e rankings mundiais tratando da Holanda como o país com as crianças mais felizes do mundo. Fiquei intrigada com o assunto e de fato quando cheguei notei algumas diferenças importantes sobre o jeito que costumava encarar a educação dos filhos e o que vi por aqui.

Nossos passeios eram normalmente em lugares fechados, como shopping, cinema e casa de amigos. Um pouco pela falta de opções de parques bacanas e bem cuidados, mas também pela nossa falta de hábito em fazer um picnic ou mesmo algo mais simples com os pequenos.

De fato a coisa se torna mais natural quando você vê todos fazendo.

O universo e a infraestrutura conspiram. O bairro onde moramos é super família, parece que todo mundo tem 53 filhos em casa, então todos os lugares são preparados pensando neste pacote completo.

Sei que é desafiador replicar o modelo em outros lugares, mas quem sabe algumas ideias inspirem um jeito diferente de tratar os pequenos. Dá só uma olhada nas principais diferenças que notei nos holandezinhos:

Autonomia é a palavra chave

Foi o que mais escutamos para descrever as crianças holandesas. Elas andam de bike sozinhas, vão ao parque, se comunicam e fazem todas as atividades cotidianas sem muita supervisão. Mesmo nas escolas, vemos as crianças entrando e saindo para ir ao parque (muitas escolas usam os parques públicos da rua para seus intervalos) ou circulando livremente sem preocupação. Sem guardinha na porta, professor correndo atrás ou monitor em cima. Até no mercado existem carrinhos de compra pequenos para que eles ajudem nas compras (fufura!). Juro que ontem vi dois meninos que não deviam ter 10 anos andando sozinhos de barco A MOTOR!!! É claro que para tudo isso ser possível morar em um lugar seguro é fundamental.

Oh o moleque se quebrando lá atrás!

Diversão Radical

Nada de parquinhos sem graça. Aqui a brincadeira é coisa séria. Até quem já passou da idade quer brincar também (de verdade, os parques são MUITO legais, veja o post "O que fazer com Crianças em Amsterdam"). É claro que é tudo seguro e muito bem cuidado pela prefeitura, mas sem excessos de zelo, travas ou proteções. As crianças sobem em torres altas, se penduram, caem e levantam. Tem tirolesa, tobogã, teias para escalar. Dos pequenos aos grandinhos todos se divertem, aprendendo e se desafiando. Ótimo para liberar energia. Não é à toa que são todos magrinhos.

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Pé no Chão

A pegada é mais roots. Nada de shopping, ar condicionado ou brinquedos modernos. As crianças brincam de bola, com blocos de madeira, caixa de areia e fazendinha. Nos bairros é comum ter mini fazendas nos parques com galinhas, porcos, cabras e coelhos para interação com as crianças. Ao invés de gira-gira os parques têm brinquedos que lembram escavadeiras, torres de água e outras engenhocas para explorar.

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Quanto mais sujo melhor

Estar cobertode areia, suado e descabelado normalmente é sinônimo de muita diversão. Significa que o dia foi bom e aproveitado ao máximo. Eu costumava me preocupar o tempo todo com manter todo mundo na linha, cabelo arrumado, rosto limpo e roupinhas combinando. Aqui é liberdade total, inclusive para escolher o outfit. Se estiver confortável e quentinho está ótimo, e parece que esta é a regra nacional.

Brinquedo legal é o do outro

Faz pouco tempo que chegamos mas ainda não vi crianças gritando e disputando brinquedos. Se alguém leva algo para o parque, em alguns minutos alguma criança chega e começa a brincar também. Todos dividem e brincam juntos sem maiores confusões. Aliás, a quantidade de brinquedos aqui é muito menor. É a mesma ideia de aproveitar o público ao invés de acumular no privado que vale para os grandes. Criança feliz brinca na rua (mesmo quando o tempo está super ruim).

Brinquedos mega caros

É usado e é bacana

Brinquedo, carrinho, bebê conforto, bicicleta, roupa. Tudo o que uma criança precisa muda muito rápido, porque eles crescem e precisam que as coisas cresçam junto. Assim, qual o sentido de ter tudo novo? É muito mais inteligente fazer parte de uma corrente de trocas, onde um passa para o outro o que precisa agora. O preço é melhor e o planeta agradece. E acredite, a última coisa que a criança irá pensar é se seu brinquedo ou utensílio acabou de sair da caixa (muitas vezes eles gostam mais da caixa, by the way).

Menos mãe helicóptero

Sabe aquela mãe que fica em cima da cria, colocando no escorregador, tirando foto e gritando pra todo mundo ouvir "não sobe aí menino!!!". Então, aqui não tem. Nos parques estão as crianças, correndo, explorando, brigando e se entendendo. Os pais (quando estão) ficam nos bancos próximos, olhando de longe, lendo e conversando.

Que educação!

Li sobre isso no "Crianças Francesas não fazem Manha" e fiquei imaginando se seria possível. Mas sim, as crianças aqui dizem bom dia, elogiam a decoração da sua casa e se despedem como mini adultos. Fiquei passada. No Brasil, ao chegar na casa de um estranho se espera que a criança se esconda entre as pernas do pai, não fale uma palavra e em poucos segundos demande algo como água, colo ou algum brinquedo avistado ao longe. Aqui a expectativa é de que cumprimentem os adultos, se apresentem e se despeçam. Uau! Um dia eu chego lá.

Joga na Chuva

Metade do ano aqui faz frio e na outra metade faz chuva. E em 95% do tempo faz frio e chuva. Mas ainda assim as crianças se divertem. No começo era comum eu sair de casa com 4 camadas de roupa, reclamando do frio e com cara de uva passa, para então passar por uma escola com a criançada feliz da vida brincando e correndo na chuva como se não fosse nada. Ok, nariz escorrendo é normal. Mas elas não ligam. Desde bebês os pais saem de casa com os filhos independentemente do tempo, fortalecendo a imunidade da garotada dia após dia. Além disso, o sistema de saúde trabalha a partir da prevenção, acompanhando as crianças mensalmente. Bem melhor do que tratar somente as doenças. Aliás, antibiótico aqui só quase morrendo. Se estiver muito, mas muito mal talvez você ganhe um paracetamol. Pois é, é assim e parece funcionar.

Escola é pra brincar

Escolher escola aqui não é fácil. São muitas linhas metodológicas diferentes e muitos pais de outros países contratam consultores para ajudar na tarefa. O governo também disponibiliza um portal com informações sobre as escolas, com avaliação por notas, fotos e diversas informações úteis. Mas o fato é que para os pequenos escola é um lugar para brincar e explorar. Nada de lição de casa e de neura para pular etapas. Não existe essa pressa para que as crianças atinjam a determinados marcos de desenvolvimento. Elas terão tempo para isso. Por hora, a ambição é que se relacionem, aprendam a se comunicar, respeitar o espaço do outro e se divertirem. Ou seja, socializar.

Crianças brincando com o professor, no intervalo da aula

A noite é dois pais \o/

Rufem os tambores: as crianças aqui dormem as 19:30 hs! Uhu!!! No inverno, pelo menos. Os pais tem a noite toda para ler, ver filmes, conversar, tomar vinho, namorar ou, o melhor de todos: dormir!! Uau, que sonho! Dear Lord, um dia eu chego lá!

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