O livro Mindset: A nova psicologia do sucesso foi o único exemplar que trouxe comigo para nossa nova vida. Disse adeus a toda nossa biblioteca (que na verdade agora descansa num lugar bem mais legal do que na nossa antiga prateleira) e escolhi este livro pra me acompanhar no nosso início aqui primeiro porque o título me deixou mega curiosa e pareceu super útil nesta nova fase, e depois porque foi presente da super talentosa Ruth Roysen.

Ao ler quase não me continha de emoção e queria compartilhar com todos que conheço um pouco do  que vi ali. O livro trata das pesquisas feitas por Carol S. Dweck, ph.D, professora de psicologia da Universidade de Stanford e uma das maiores especialistas no campo da personalidade, psicologia social e psicologia do desenvolvimento (como eu invejo esse currículo!) e basicamente fala que podemos ser regidos por dois diferentes mindsets: Fixo e de Crescimento.

O Mindset Fixo

Na realidade cada um de nós tem um pouco dos dois, mas um normalmente fala (no meu caso grita) mais alto. Resumidamente, o mindset fixo acredita que a inteligência é estática. Que algumas pessoas têm determinadas habilidades ou certo nível de inteligência e isso pode ser pouco alterado. Considere as pessoas que tem uma facilidade incrível com números, ou dons artísticos, ou tocam bem violão, são bons negociadores, e por aí vai.

Eu pensava assim. O Giu, por exemplo, desenha incrivelmente bem. Quando a Nick pede para ele fazer um bonequinho ele desenha todo o casting da Disney sem precisar olhar pra nenhuma referência, e faz isso não em poses estáticas. A cabeça dele desenha em 3D. Do meu lado a Nick já sabe o que esperar. Será o mesmo zé-palito de chapéu que a tia Nilsa me ensinou a fazer na primeira série. Então, na minha concepção, mesmo que me esforçasse muito, treinasse 12 horas por dia e o Giu nem 30 minutos, eu jamais poderia ter a mesma capacidade dele (ou pelo menos 10% dela).

Aí está uma legítima representante do Mindset Fixo. Na quarta série eu quase tive um colapso nervoso porque dormi e não consegui estudar para a prova do dia da árvore, que basicamente se resumia a memorizar: raiz, tronco, caule e folhas.
Quando você se sente inteligente? Quando é perfeito ou quando está aprendendo?

No mindset fixo existe a necessidade de acertar logo de cara. Não existe a palavra "ainda" na frase "Não consigo fazer isso". Pessoas assim têm uma preocupação tremenda com como serão avaliados. É preciso se mostrar inteligente, talentoso, especial e de alguma forma superior aos outros.

Fracasso aqui é encontrar uma adversidade, porque ela prova que não somos bons o suficiente. Não somos merecedores. Assim, ao encontrar uma barreira as pessoas de mindset fixo perdem o interesse, porque aí estará um risco de serem flagradas não tão inteligentes quanto se supunha.

Em vários estudos mostrados do livro crianças (sim, o mindset começa na infância), depois de muito elogiadas ao completarem determinada tarefa simplesmente não querem continuar, porque têm medo de não serem tão bem sucedidas nas próximas tentativas ou quando o nível de dificuldade aumentar. Elas deixariam então de serem especiais.

No mindset fixo tudo gira em torno do resultado. Se você fracassar - ou se não for o melhor -, tudo não passou de desperdício. O mindset de crescimento permite que as pessoas deem valor ao que fazem independentemente do resultado.

Esta forma de pensar leva a uma tendência por evitar desafios, ficar na defensiva (especialmente quando se encontra uma barreira) e desistir facilmente das coisas. O feedback ou a crítica são recebidos com muita dor, o sucesso dos outros é uma ameaça e o esforço é considerado algo ruim. Afinal, se é preciso se esforçar muito é porque não era para ser. Se somos bons em algo, isso deveria acontecer naturalmente, como um passeio no bosque. "A ideia de se esforçar e assim mesmo fracassar - ficar sem desculpas - é o pior temor do mindset fixo".

O Mindset de Crescimento

E agora a parte boa, o outro lado da moeda. Pessoas que desenvolvem um mindset de crescimento (sim, tem jeito, dá para desenvolvê-lo) têm um interesse enorme por aprender, pelo processo e não apenas pelo resultado. Adoram coisas novas, tem gosto pelo desafio, confiança no esforço, resiliência diante de adversidades. Fracasso significa não aprender, não crescer.

Nos estudos, quanto mais elas fracassavam, mais determinadas se tornavam.  "Mesmo que você acredite que não sabe fazer bem determinada coisa, ainda assim é possível mergulhar nela com empenho e perseverar. (...) Você não precisa achar que é competente em algo para desejar fazê-lo e ter prazer nisso."

Em um dos estudos os pesquisadores ofereciam quebra-cabeças para crianças de 4 anos. Elas poderiam escolher entre refazer um quebra-cabeça fácil ou tentar outro mais difícil. Algumas preferiam a alternativa mais segura. "Crianças que já nascem inteligentes não cometem erros" elas disseram. Outras achavam estranha essa escolha. "Por que está me pedindo isso? Por que alguém vai querer continuar fazendo o mesmo quebra-cabeça? Estou louca para descobrir a solução!".

O livro está recheado de exemplos na área dos esportes (mindset campeão e o mito do talento nato - histórias como a de Michael Jordan são demais), da liderança (Jack Welch e outros líderes inspiradores e como eles inspiram seus times), ciência e tecnologia (as grandes descobertas foram mesmo feitas assim, como num passe de mágica ou com muito esforço e milhares de cabeças pensantes?), relacionamentos (achamos que o relacionamento deve ser algo perfeito, e se temos que trabalhar algo para que funcione então não fomos feitos um para o outro) e na educação (amo ler sobre professores que conseguiram inspirar seus alunos e transformar toda uma comunidade).

"Se você é alguém quando tem sucesso, o que você é quando fracassa?"

Não daria para cobrir todas as coisas bacanas do livro, mas deixarei aqui os dois pontos que mais me chamaram atenção no livro e, para fechar, dicas da autora para desenvolver seu mindset de crescimento:

O perigo dos Elogios

É meio que natural que os pais (e nem preciso falar dos avós) elogiem as habilidades das crianças para encorajar novas atividades e estimular seu desempenho. Contudo, elogiar aptidões envia uma mensagem de que estamos prestando atenção à elas, as valorizamos e consequentemente os qualificamos conforme seu desempenho. Então, a criança poderá pensar "enquanto sou um prodígio recebo atenção e carinho, mas e o que acontece se eu falhar?". Isso faz com que se deixe de curtir o processo da descoberta, que inevitavelmente passa pelo erro.

Assim, a ideia é elogiar o esforço e não a aptidão. Ao invés de dizer, por exemplo: "Que beleza, você conseguiu acertar 8 perguntas, você é muito inteligente!", seria melhor dizer: "Este é um resultado muito bom! Você deve ter se esforçado bastante".

A ideia não é encorajar o esforço esquecendo-se do resultado, mas fazer com que a criança chegue no resultado curtindo o processo, aprendendo. Não faz sentido insistir na mesma estratégia se não está dando certo, assim, a criança pode tentar diferentes formas para aprender e chegar ao seu objetivo.

"Se os tipos errados de elogio levam crianças pelo caminho da dependência, da fragilidade e do se sentir no direito, talvez os tipos corretos de elogio possam levar a um caminho de trabalho duro e maior resistência".

Se a criança se auto proclama um prodígio (vamos imaginar que ela completou uma tarefa com êxito e sem dificuldades), a resposta correta seria: "Nossa, me desculpe, esta atividade foi fácil demais, não foi divertida, precisamos ver algo mais bacana para você fazer".

E o que fazer quando as coisas dão errado, ou seja, quando o caso não é para elogiar mas sim para consolar depois de uma grande decepção? Houve esforço, porém não o suficiente para chegar ao resultado. A resposta da autora é simples, é preciso honestidade para dizer exatamente isso. Não diga que na sua opinião seu filho foi o melhor (porque no fundo isso não é verdade e assim você não dá a ele um caminho para melhorar), que ele foi injustiçado (o que o ensinaria a colocar a culpa sempre em alguém ou algo), que aquilo não é tão importante (porque acaba por desvalorizar tudo em que ele não obtenha sucesso imediato) ou que ele conseguirá da próxima vez (por que não é verdade, a não ser que ele se empenhe mais ou mude de estratégia). Assim, por pior que seja, a verdade é que será preciso mais esforço e tempo, e que se é algo que ele realmente deseja será possível chegar lá com determinação.

Por fim, sobre rótulos, desnecessário dizer o quanto é negativo ouvir dos pais algo como "este aqui é o organizado e aquele é o criativo". Simplesmente não coloque etiqueta alguma.

"Quando você recebe um rótulo positivo, receia perdê-lo; ao receber um negativo, receia merecê-lo".

Atenção às Mulheres

Mulheres tendem a se preocupar mais com a opinião dos outros sobre elas. Quando crianças os meninos se provocam, se xingam e isso não significa que de fato queiram se ofender ou pensem coisas negativas uns em relação aos outros. A autora cita que "observando crianças em escolas fundamentais verificou-se que os meninos são oito vezes mais criticados por seu comportamento que as meninas. Eles também frequentemente se xingam de burros e retardados. O resultado é que as avaliações perdem grande parte do seu poder".

Já as meninas são criadas para serem perfeitinhas, e acostumam-se a receber elogios por seu comportamento digno da realeza. São comportadas, engraçadinhas, prestativas e precoces. Assim elas aprendem a confiar na avaliação dos outros. "Vejam, todos me tratam bem; se me criticam deve ser verdade". 

Uma pesquisa de Claude Steele e Joshua Aronson mostrou "que até mesmo a especificação de raça ou sexo num formulário é capaz de deflagrar o estereótipo e reduzir o desempenho. (...) Basta que haja homens junto com uma mulher na sala do teste de matemática para que as notas delas caiam vertiginosamente".

Ou seja, é preciso resignificar o  mindset especialmente no caso das minorias, e o livro trata com atenção especial às mulheres neste sentido.

Como desenvolver um mindset de crescimento

É claro que o livro é muito mais esclarecedor neste sentido, mas deixarei aqui o supra sumo do resumo do  que a autora considera como o caminho para uma mudança de mindset:

1. Abrace seu mindset fixo. Reconheça que você é humano e por isso, pelo menos uma parte de você, raciocina desta maneira;

2. Identifique seus gatilhos. Descubra o que desencadeia este mindset em você. É quando um desafio aparece? Quando você se esforça e não consegue? Quando um grande fracasso acontece? Quando conhece alguém incrivelmente melhor que você em uma área que você admira? E por aí vai;

3. Dê um nome para sua persona com mindset fixo. A minha, por exemplo, foi batizada de Devlin (do filme Esposa de Mentirinha) porque tenho pavor de me comportar assim. É meu alter ego verde, invejoso e horrível;

4. Eduque-a. Agora que essa pessoa tem um nome você poderá levá-la com você e educá-la. Você estará vigilante quando ela chegar (já conhece os gatilhos). Agradeça sua preocupação (afinal ela só existe para sua segurança) mas diga que agora você precisa tentar.

Termino este post (bem mais longo do que deveria) com este TED fantástico sobre o tema, que inclusive cita a autora. Ele nos deixa com uma vontade absurda de tentar, de falhar e de tentar de novo. Que possamos escolher relacionamentos que nos desafiem a crescer e não os que nos massageiam o  ego. Eu voto por sermos ávidos, ousados, vorazes, gananciosos por tentar, tentar e depois tentar de novo. Assim saberemos com certeza que o caminho terá sido ainda melhor que o destino.

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Todas as citações que aparecem ao longo do texto foram retiradas do livro "Mindset: A nova psicologia do sucesso", de Carol S. Dweck.

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