A Holanda tem a maior taxa de engajamento no trabalho na Europa. Esse foi um dado do Sixth European Working Conditions Survey de 2015, trazido pelo professor Wilmar Schaufeli, Doutor em Psicologia pela Universidade de Groningen na Holanda e umas das maiores autoridades no mundo quando o assunto é engajamento no trabalho.

Considerando que a escolha do país onde se quer trabalhar é um fator crítico na vida dos expatriados, achei interessante deixar aqui esse registro.

Mas antes de mais nada vamos entender exatamente (e bem rapidamente) sobre o que estamos falando. Engajamento, segundo Schaufeli et al. (2002; p. 74) “é um estado mental disposicional positivo que influencia o comportamento das pessoas em suas atividades profissionais, composto por três componentes: vigor, dedicação e concentração”.

Traduzindo: considerando que o trabalho nada mais é do que desgaste de energia, podemos imaginar no engajamento uma situação onde as nossas baterias estão cheias.

Rola identificação com o trabalho, temos ideias sobre ele o tempo todo e de forma proativa, conseguimos nos manter focados, absortos na tarefa, somos produtivos e sentimos uma motivação intrínseca (ou seja, que vem de dentro) que nos faz caminhar aquelas milhas a mais.

Isso acontece por uma série de fatores que podemos chamar de recursos do trabalho (apreciação, autonomia, liderança, clima de trabalho, suporte social, etc), além dos nossos próprios recursos pessoais (otimismo, auto-eficácia, extroversão, entre outros) e do perfil da liderança. Ele vem de dentro, é intrínseco, diferente do comprometimento por exemplo, que seria algo externo, um vínculo com o trabalho.

satisfação seria quando a coisa tá meio morna. Está tudo ok, mas ficamos meio acomodados, não há muito desafio e nos importamos pouco com como estamos performando.

Indo para o outro extremo, temos os Workaholismo, que é bem diferente de estar engajado, porque nesse estado existe uma compulsão pelo trabalho, e um sentimento de culpa, como se mesmo trabalhando o tempo todo isso não fosse o suficiente.

E por fim, o tão comentado hoje Burnout, que seria quando a nossa bateria está quase zerada. A energia se vai e não existem condições de nos restaurarmos. É exatamente o contrário do engajamento. Sentimos exaustão, estresse, desmotivação. Estar engajado é um antídoto contra o burnout, ao contrário do que muita gente pensa.

Prof. Wilmar Schaufeli
Pois bem, mas voltando a Holanda, numa escala de engajamento de 1 a 5, seus trabalhadores pontuaram em 4,22, primeiro lugar dentre os países da Europa, logo a frente da Irlanda (4,17) e sua vizinha Bélgica (4,15). Portugal ficou em último lugar dessa relação (3,69), sendo 3,94 a média dos países europeus.
Prof. Wilmar Schaufeli

Essas diferenças chamam super a atenção, porque mesmo que os países europeus sejam geograficamente pequenos e próximos, as diferenças culturais são gritantes e a escolha por onde vamos fincar o nosso acampamento muda absolutamente tudo nessa vida.

Mas o que justificaria essa grande diferença?

Sabendo que engajamento é saúde e coisa boa, e portanto, todo mundo quer, como podemos entender esse resultado? Segundo o professor algumas características explicam esse quadro:

I. Economia: há uma relação muito próxima entre engajamento e economia. Quanto mais rico o país, maior ocorrência de engajamento. Veja que países como Bélgica, Noruega, Suíça, Irlanda e Dinamarca têm altos índices de GDP (Gross Domestic Product) e engajamento. Mas depois de um certo índice o engajamento se mantém similar, mesmo com maiores diferenças de riquezas econômicas. Este tipo de correlação é visto também de forma muito parecida nas escalas de felicidade e riquezas dos países.

Prof. Wilmar Schaufeli

II. Política: países mais estáveis, com economias mais estabelecidas e com maior igualdade de gênero possuem maiores índices de engajamento. Neste sentido podemos considerar que muito pouco acontece por aqui politicamente falando. A coisa toda é muito estável.

III. Individualismo: é um dos mais importantes preditores deste fenômeno. Países com culturas mais individualistas, e por essa palavra compreenda com maior autonomia, são mais engajados. Isso justifica em parte que os países mediterrâneos (como Espanha, Itália e Portugal), com culturas mais coletivistas, pontuem menos.

Isso é claro não significa que tudo são flores pro lado de cá. E falo isso de um ponto de vista 100% teórico. Ainda assim fica fácil supor que os níveis de engajamento vão mudar radicalmente conforme a empresa escolhida e o próprio perfil do profissional, como vimos lá no começo do papo. De toda forma vale considerar que a tríade acima, somada à cultura holandesa de work-life balance dão um super empurrãozinho.

Prof. Wilmar Schaufeli

Empregos na Holanda

Somente como curiosidade, no final de 2009 a Holanda somava 9 milhões de trabalhadores (national statistics agency CBS), numa população de 17,4 milhões. Esta é uma marca histórica (a mais alta dos últimos 50 anos), com 69% da população ativa empregada.

A porcentagem de mulheres no trabalho também tem aumentado: de 34% em 1969 para 64% em 2019. Ainda assim a maioria não trabalha em tempo integral (por que será? 🙄).

Abaixo estão informações sobre o salário mínimo por aqui, variando conforme faixa etária. Note que estas informações são atualizadas todos os anos ok?


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